*Edson Amaro
Dilma
Rousseff era uma fonte inesgotável de asneiras. Dizia coisas sem sentido e a
imprensa não perdoava. “O aeroporto é uma outra forma de transporte”, disse a
ex-presidenta. “Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta,
que é um cachorro, o que é algo muito importante”, disse de outra feita a chefe
da Nação, em outro discurso sem sentido algum. E aí descobrimos que o livro “A
vida quer é coragem”, pretensa biografia de Dilma Rousseff escrita por Ricardo
Batista Amaral, é uma obra de ficção, pois a intelectual que protagoniza a obra
nunca existiu.
E daí
ela sofre um golpe de seu vice, Michel Temer, outro poço de boçalidade.
Declara-se poeta, mas que raio de poeta é esse que não serve nem para criar um
slogan para seu desgraçado governo? Simplesmente copia o lema da bandeira,
“Ordem e Progresso”. É inesquecível a cena em que, ao inaugurar a linha 4 do
metrô (que antecipou-se à linha 3, numa aritmética inexplicável), disse que seu
correligionário, o parasita Pezão, que esvaziou os cofres do estado do Rio de
Janeiro distribuindo isenções fiscais tal como se fossem doces de Cosme e
Damião, e que no momento submetia-se a uma quimioterapia, tinha ficado mais
bonito calado. O asno que ocupa a cadeira presidencial perdeu uma ótima
oportunidade de ficar calado.
Mas se a
imprensa ridicularizava tanto as bobagens ditas por Dilma, por que silencia
diante das sandices de Michel Temer? Seria por que o “governo de salvação
nacional” (assim Temer, no ato da posse, chamou esse amontoado de corruptos –
lembram que toda semana caía um ministro nos primeiros meses?) tem gasto muito
mais que Dilma com publicidade? Apesar de tanto falar em austeridade, o governo
federal gastou em dezembro de 2016 106% a mais com publicidade em relação a dezembro
de 2015. Dizem por aí que todo homem tem seu preço, mas parece que as
consciências da imprensa brasileira estão em promoção.
Em
qualquer país cuja imprensa tivesse vergonha na cara, todos os jornais, rádios
e TVs condenariam unanimemente uma PEC que congelasse por 20 anos os
investimentos em Saúde, Educação e Pesquisa, com a única concessão de reajustes
conforme a inflação. E por uma razão simples: o analfabetismo funcional, a
zika, a diabetes, o atraso tecnológico e científico não respeitam índices
inflacionários. Ou alguma vez o câncer deixou de acometer um cidadão por ele
estar desempregado? Será que as doenças que contraímos são de acordo com nosso
poder aquisitivo?
No
interior de Minas, no Vale do Rio Doce, o mesmo Rio Doce destruído pela irresponsabilidade
e pela ganância da Vale e da Samarco, crime ecológico impune até agora,
reapareceu a febre amarela em sua variante rural, transmitida pelo mosquito
Haemagogus. Segundo pesquisadores da Fiocruz, o desastre ambiental tornou
possível essa epidemia: o ciclo da febre amarela estava antes restrito à
floresta. Com a degradação ambiental, os animais, macacos inclusive,
hospedeiros do vírus, aproximaram-se mais das comunidades.
A
epidemia de febre amarela já é argumento suficiente para mostrar que as medidas
de “austeridade” do vampiro Temer são perfeitas para impedir o progresso do
nosso país e afetar mortalmente as camadas mais pobres de nossa sociedade.
Ou seja:
Dilma é tão incompetente que escolheu o vampiro Temer como vice.
Obrigado,
mosquito Haemagogus, por mostrar a todo o Brasil o que o jornalismo se recusa a
dizer.
*Edson Amaro é poeta, ator e tradutor. Publicou pela
editora Buriti sua tradução do romance “Valperga’, de Mary Shelley, e pela
editora Fragmentos o livro de poemas “Ouro Preto e Outras Viagens”.