sexta-feira, 15 de julho de 2016

Hector Babenco

*Edson Amaro

Resultado de imagem para hector babencoArgentino apaixonado por São Paulo, Hector nos ajudou a pensar o Brasil, a partir da paisagem paulista.
Seu filme "Pixote" é um clássico do cinema. Impossível de filmar hoje, com a atual legislação que protege menores. Mas ali está de forma ultrarrealista o estrago que a miséria pode fazer na infância. E, de brinde, a poesia de cenas antológicas como aquela em que Marília Pera (que Sarah Bernhardt a tenha em sua santa paz) acolhe no colo, como uma nova "Pietà", o pequeno delinquente interpretado por Fernando Ramos da Silva, jovem ator de carreira meteórica, vítima da sociedade excludente e da violência urbana.
"O Beijo da Mulher Aranha" foi o embaixador que a América Latina precisava no Hemisfério Norte, a gritar pela ânsia de liberdade que nosso subcontinente buscava.
"Carandiru" levou para as telas a sempre necessária discussão sobre o degradante sistema carcerário, mostrou uma personagem trans amando dignamente e sendo redimida por esse amor, mostrou que não há outro inferno a temer senão este em que já vivermos.
Obrigado, Argentina, por nos dar Hector Babenco!

* Poeta e professor

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A primeira transa gay na novela

Não vi a cena aonde o personagem dos atores Caio Blat e Ricardo Pereira transavam na novela "Liberdade,Liberdade. Eu estava jogando Super Mario Bross( um jogo que um dia vou zerar) e só peguei cenas posteriores da transa. Vi apenas fotos das cenas e pude entender que a transa fazia parte do enredo da novela e que também foi feita com sensibilidade e boa fotografia.
Foi um marco para tv brasileira em relação a futuros personagens gays e lésbicas serem protagonistas ou personagens fixos em novelas e séries. Vejo uma vitória dos autores de vencer esse chato tabu de não poder escrever um personagem homossexual que vive uma vida normal e que pode influenciar na história sem estereótipos. E espero que a nova novela da Glória Perez que vai falar sobre transexualidade seja um sucesso, que transexuais masculinos e femininos não seja personagem secundário, mas sim atuante na trama, Ou que fique debatendo sobre a questão dele ser transssexual,mas que fale de outra coisa. Nas séries americanas, acontece de personagens gays ou lésbicas não ficarem fazendo merchandishing social,mas serem protagonista no trama.
Sobre a reação do público,foi natural as pessoas começarem a criticar tal cena,porque foi uma cena que nunca se tinha visto e então o choque era inevitavél.Pena que as pessoas façam de seu choque com xingamentos,preconceito e até com discurso violento. Mas na verdade quem tem a culpa nisso tudo é a tv,que teve grande oportunidade de fazer que gays,lésbicas e travestis fossem colocados comopessoa normal,mas a colocaram como pessoas chilquentas e engraçadas. Poderiam fazer isso no fim da ditadura militar. 
A cena gay da novela não vai estimular atores e atrizes sairem do armário como e muito menos diminuir violência contra gays,mas pelo menos vai fazer que a tv pense em tratar o povo gay,lésbica e transexual como um telespectador e consumidor. Porque eles são normais.


terça-feira, 12 de julho de 2016

Os candidatos provincianos e ruins da Baixada.

Nunca vai se melhorar nada em qualquer cidade da Baixada se a população de suas  cidades   verem que a política não é um esporte ou assuntos de fofoca e costume,mas sim que atingirá as suas vidas por um bom tempo. E dessa população alienada que sairá os candidatos. 
Tenho nas minhas redes sociais, pessoas que vão se candidatar a cargos eletivos em 2016. É óbvio que vejo muitos equívocos em relação a vários temas que pretendem discutir,mas no final não discutem nada,porque não tem foco. Muitos mal sabem completar uma frase ou escrever corretamente.Postam fotos patéticas querendo ser popular e desinibido,mas na verdade acabam mostrando caricatas junto com quem a visitam. 
Fora os convites que recebo para uma roda de conversa, que no final é uma chuva de promessas que jamais vão cumprir ou ainda tentam te comprar de forma imediata com exames médicos,emprego temporário ou até uma cesta básica.
Pior é ver foto de candidato pedindo intervalo nos templos de Jesus, para mostrar que é abençoado pelo dirigente espiritual do recinto religioso ou pasmem pelo própio rabi da Galiléia! E tem gente que ri de da existência de Deus,mas está lá rindo com todos membros da denominação religiosa com direito a selfie.
Os políticos coronéis da Baixada nunca mudam:discursos velhos e autoritários,usam do fisiologismo para arrecadar votos, são conservadores,preconceituosos,burros,religiosos ao extremos,cada vez estão mais ricos e ainda prometem o que não podem cumprir.E continuam sendo votados porque compram votos.
A esquerda na Baixada é hipócrita. Ou se está na periferia, é medíocre,porque mal consegue organizar um grupo de embate contra os coronéis do seu bairro. Falam que não querem entra em conflito para não morrer com a boca cheia de formiga. Tem candidatos de esquerda que mal conhece a periferia, mas insiste em achar que sendo amigo de quem mora lá,conhece.
Esqueça a esquerda revolucionária,porque todos candidatos são reformistas e sem propostas. 
E ainda tem a péssima de falar difícil com a população mais humilde,achando que elas entendem teorias filosóficas-sociológicas.
O que me dá mais raiva dos candidatos da Baixada é quando abordam jovens. A direita empregam eles como panfleteiros ou coloca entretenimento como baile funks ou patrocinam a banda da igreja. 
Proposta?Para a direita jovem é irresponsável e imaturo.
Os candidatos da esquerda acham que o jovem merecem uma chance de ser escutado. Pelo menos é progressivo em relação a direita.Mas acham que na verdade são vítimas e que devem ser libertos.
E fazem pior:querem falar a linguagem do jovem,onde no final acaba parecendo um imbecil.Tinha um candidato da esquerda que conheci que fazia isso sem ter carisma algum.
Tem muitos que se candidatam a vereadores para depois desfrutar da vida boa que o cargo dá. E nem fazem questão de esconder isso em conversas com seus eleitores que ainda tem pena dele e fala: "Vamos ajudar ele"
Me cansei das eleições acontecidas aqui na Baixada.Não consigo achar graça  dos trejeitos e discursos dos candidatos de nossa região. E fico enfadado quando vejo no jornais notícias de candidatos assassinados. E vivi um governo que se dizia de esquerda,mas na verdade fez a mesma coisa que a direita fazia.Então a minha esperança sumiu como uma vesícula fosse tirado de mim.








segunda-feira, 11 de julho de 2016

A escola do idiota-Escola sem partido

Queria escrever esse assunto há muito tempo,mas sempre me esquecia de escrever ou tinha assunto mais importante a escrever que deixava esse assunto em segundo plano.
O projeto em si é uma coisa desimportante que deveria ser esquecida eternamente. Porém infelizmente tem "intelectuais" que fazem necessidade fisiológicas pela boca como Rodrigo Constantino,Leandro Narloch,Olavo de Carvalho e Alexandre Frota que acham que professores assediam os alunos quando falam de comunismo e socialismo. Ou "lideranças cristãs" hipócritas como Marcos Feliciano,Silas Malafaia,Magno Malta, e vários pastores picaretas que querem mercado consumidor mais idiota para terem mais lucros. Fora lideranças fasci-nazistas como Jair Bolsonaro.
Porém o assunto que antes deveria ser desprezado,acabou invadindo o legislativo por representantes dos opinantes acima:lideranças religiosas,neoliberais, empresariais que querem que as pessoas apenas aprendam  coisas que ajudam para trabalhar. Acham que palavras como comunismo,darwinismo e sociologia deveriam ser extintos.
O professor para os defensores da escola sem partido tem que apenas fazer o aluno a aprender coisas que faça ele decorarem,sem qualquer reflexão. Os professores devem obedecer os costumes das pessoas como por exemplo a discriminação sexual, o machismo,sexismo,discriminação religiosa(único avatar aceito será Jesus) a lei do mais forte e a visão de Deus e Jesus como seres punitivos.Ou seja a ciência foi para o lixo.
A lei na verdade se for aplicada de início não atingirá os professores. Será que terá fiscal dos professores nas salas de aulas para saber o que ele está falando?Ele ficará atrás da porta para ver o que o professor disserta? Pode até ter,mas no corpo escolar, se terá pouco desse episódios
O "x-9" será o aluno. Que chega em casa e fala para mãe conservadora: "Professor falou que a luta de classes foi bom para a burguesia " ou a aluna que numa conversa em família fala que a professora falou sobre a importância da camisinha .Ai venho os pais furimbudos reclamar com a direção ou a secretária de educação sobre o fato que imediamente chama o professor e adverte ele que segundo a lei n°tal ele não poderia fazer aquilo. E o professor que levou vária denúncias? Ai ele é demitido.
Fora que esse fato vai ser usado por alguns diretores e coordenadores pedagógicos que vão usar essa lei pouco nítida para prejudicar professores pelo simples fato de serem inimigos políticos ou profissional. O estado e empresa também usarão essa lei para ter razão de demitir os docentes. E agora?
Os magníficos legisladores deveriam ir a uma sala de aula de qualquer denominação educacional e ver que é quase impossível hoje o docente fazer doutrinação ideológica.Para começar uma boa parte dos alunos não acompanham política,tem analfabetismo funcional,tem dificuldade de escrever uma redação ou até alunos que tenha problemas cognitivos-mentais na qual o professor tem de ajudar para que entenda mais a matéria. Fora a provincialidade do aluno que só enxerga os assuntos do espaço que vive.
Como o professor ainda vai ter tempo de falar de Gramsci,teoria geológica e chamar alunos para ir numa caminhada de greve?0
O professor ideológico apesar de acreditar que pode fazer a revolução pela sala de aula,não usa método de doutrinação como "tem de ser comunista" ou "poliamor é normal" ou até "Deus é coisa de capitalismo". Ele simplesmente passa livros para ler,filmes para reflexão ou dinâmicas que estimulem autonomia do aluno como jogos lúdicos, paródias musicais e interpretação de texto. 
Essa lei na verdade é uma coisa que os donos do capital estão vendo com estranheza,mas daqui a pouco vão aderir devido simplesmente fazer que futuros trabalhadores sejam passíveis a qualquer mudanças trabalhistas como o aumento de jornadas de trabalho de 44 a 80 horas semanais e cortes de direitos trabalhistas e também que haja menos pessoas gritando nas ruas. 
E também a forma mais barata e proveitosa do Estado não ter adversários e custos como melhorar a estrutura educacional.







  

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Zeca Borodoada se foi

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Quando José Wilker morreu,tive um choque quando soube que um homem que esbanjava vitalidade e segurança em suas atuações e entrevista tinha partido tão de repente .Porém com o ator Guilherme Karan foi uma coisa que todos esperava que ele iria morrer a qualquer momento,porém ficava aquela torcida que de uma hora para outra ele sairia da cama e imediatamente já estaria dando entrevista com várias pitadas de ironia e sarcasmo. Porém na verdade foi a melhor coisa que aconteceu para esse artista multifacetado que infelizmente foi paralisado por uma doença degenerativa-agressiva Joseph Machado que impedia de mover seus músculos. Enquanto existia força em algum músculo,estava ele tentando fazer algum projeto. Até nos últimos dias de vida,comunicava com o piscar dos olhos.Depois coma profundo. Karan quando viu que não conseguia ficar em pé,preferiu se isolar de todos,sem ter contato com ninguém.Uma caridade que ele achou necessário as pessoas amigas para que não guardassem imagens de depuração física.
Eu comecei acompanhar a carreira desse ator na TV Pirata quando eu tinha 6 anos.Não entendia piada da TV Pirata,mas ria quando aparecia a interpretação mais famosa de Karan,Zeca Bordoada,uma zoação aos machistóide de plantão, que existe até hoje.Com falas sexistas e machistas, Bordoada era uma denúncia de como rídiculo o homem poderia ser com seu machismo.
Depois acompanhei sua atuação no cinema,interpretando o vilão Baixo Astral. Eu detestava Xuxa,mas atuação de Karan fez eu torcer pela Xuxa no filme. Para fazer isso, tem que ser gênio.
O mordomo Porfírio na novela chatíssima de Cassiano Gabus Mendes,roubava a cena com a sua insistência de querer namorar a Magda.Sempre com cantadas charmosas e engraçadas, fazia as pessoas gargalharem.
Além de suas atuações, as entrevistas que dava era de uma aula sobre atuação e humor que beirava a egocentria. Numa dessas entrevistas,falava que tinha pessoas que nasciam para ser ator,outros se estudassem seria um ator certinho, ou seja,técnico inexpressivo.
Karan fez parte de uma era onde ator antes tudo,tinha de fazer teatro para depois brincar na tv.
O legado que ele e a turma do TV Pirata deixou foi que as tvs investissem num humor mais inteligente e urbano com altas doses de popular.
Uma pena que Karan começou a ter essa doença degenerativa no ressurgimento dos musicais( na qual ele era um bom cantor) , novelas e canais de humor no You Tube, na qual com certeza ia ser aclamado pela nova geração do humor e também dos telespectadores.
Seus vídeos continuarão a ficar nas mentes e corações das pessoas. E Zeca Bordoada ,patrono do machismo engraçado.




quarta-feira, 6 de julho de 2016

Lei Rouanet

Para quem não sabe, quem dá nome a lei que incentiva empresários dedicar uma parte do imposto de renda a projetos culturais está vivo e bem atuante no ramo filosófico.Só se recusa veemente de dar entrevista sobre tal assunto. Talvez porque viu que o projeto nunca deu certo.
Leis que incentivam a cultura ou qualquer ramo que façam as pessoas agitarem mentes e corpos é válido,o problema é quando lei vira um meio de levar vantagem ilícita.
No capitalismo, não há bondades e caridade, e as empresas de alguma forma fazem de tudo para além de ser doação, que também vire lucro. Pois bem, muitos dos eventos artísticos que tiveram essa ajuda das empresas da Lei Rouanet viraram uma forma das empresas divulgarem suas marcas.
Qual empresa que não gostaria de ver seu nome circulando antes de começar um filme ou uma peça de teatro ou ter banners com seu logo? É então que artistas pintam e bordam pedindo incentivo da Lei Rouanet para seus projetos. Desde shows especiais até a livro de poesias. De incentivo,virou abuso extremo.
Antes os artistas que pediam tal incentivo para seus projetos eram apenas patrulhados via mídias e redes sociais,hoje a polícia federal também quis patrulhar. E pasmem,até casamento apoio de leis Rouanet.
Na verdade essa lei deveria ajudar empreendimentos culturais de grupos culturais que tivessem dificuldade de conseguir apoio como os artistas pobre da periferia ou projetos sociais relacionados a arte. Ou até financiar pontos culturais. E existem vários grupos de teatros que precisam de um ônibus para fazer rodar suas peças, grupo de música folclórica ou até hip-hop ou rock que quer apoio em festivais ou artistas que querem lançar um livro num país onde uma boa parte dos leitores não tem condições de publicar suas prosas e poesias.
Porém o que ela virou foi apenas mais uma forma oportunista de se dar bem. 
O ministro da cultura já falou que haverá mudanças no projeto,o que se entende que ele terá praticamente seu funcionamento comprometido num governo onde o o que sai deve ser contido.
Enquanto isso a lei virou argumento para pessoas ignorantes jogar pedras sem saber o que a lei significa.
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Fugidinhas
Amanhã em Nova Iguaçu no Patronato as 18 horas virá a ex-senadora Marina Silva, prestigiar o lançamento da candidatura a prefeito de Nova Iguaçu,Adriano Dias. Será que Marina roterizou  e preparou o discurso ou estará com boa vontade de dar respostas objetivas?,porque se não fez isso,zzzzzzzzzzz para quem assistir.Marina deveria cuidar da sua saúde física e espiritual,porque se não será engolida no partido.
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Adriano Dias quer conversar com o PCB.
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A professora Leci Carvalho será candidata a prefeita do PSOL de Nova Iguaçu.Na verdade era para ser o técnico de informática Núbio Revoredo,que se quisesse seria prefeito por ter votos de membros do PSOL , porém um acordo para eleger José Luís Prímola ,presidente do PSOL Nova Iguaçu,fez que Núbio viesse a vice e Leci,candidata a prefeita. 
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Dizem as más línguas que a diminuição de cadeiras de vereador de Nova Iguaçu foi um pedido especial de Bornier que quer só gente graúda e experiente para ser vereador da cidade. O prefeito estava aborrecido de ter vereador que mal sabia falar direito,péssimo senso de interpretação e ainda pedia demais tudo. Quer mais qualidade e economia.
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Tem um presidente de um partido nanico em Nova Iguaçu que está igual jogador de roletas.Coloca fichas na candidatura do Bornier e  Rogério Lisboa.Até nele mesmo,pensando em se candidatar.Enquanto isso o comitê executivo do partido apoia candidatos que não são do partido.
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segunda-feira, 4 de julho de 2016

A redação do ENEM e a sala de aula

*Edson Amaro
Não morro de amores pelo PT – muito pelo contrário – mas reconheço que desde Lula há duas inovações no plano da Educação que merecem ser aplaudidas de pé: uma é a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. As provas aplicadas anualmente são o tipo de questionário que eu gostaria que tivessem aplicado na escola em que estudei, quando, criança e adolescente, sofria estudando Matemática. Ensinaram-me a Matemática como uma abstração e aquelas questões fundamentadas em textos que trazem para a vida cotidiana as fórmulas matemáticas estimulariam meu interesse por essa matéria ainda cheia de mistérios para mim. – Beijarei as mãos e pagarei um sorvete a quem me disser que utilidade prática têm as equações de segundo grau.
Outra inovação importante é o Exame Nacional do Ensino Básico – ENEM. Antes, alguém que quisesse cursar uma universidade teria que se inscrever para o vestibular de cada instituição. Agora, ao fazer o ENEM, o candidato concorre ao mesmo tempo para todas as universidades públicas do país. Isso significa mais oportunidades e economia para os jovens pobres. A relação custo-benefício é muito vantajosa para nossos estudantes.
Mas não foi apenas nisso que o ENEM inovou. A sua redação, que sempre suscita polêmicas do Oiapoque ao Chuí, é uma inovação quanto a tudo o que se vinha fazendo até agora em vestibulares e concursos públicos.
Desde que existem vestibulares e concursos públicos, as redações pedidas são textos dissertativos-argumentativos. O candidato apenas tem que opinar sobre algum tema proposto. Por exemplo, da última vez que fiz um concurso público para uma instituição federal, lemos um texto de Rosiska Darcy de Oliveira falando sobre a velhice – resumo da ópera: a imortal dizia que não se fazem mais velhos como antigamente – e a redação propunha que falássemos se era ou não justo dizer que a velhice era a “melhor idade”, eufemismo que já virou lugar comum. Ponto.
A redação do ENEM não se limita a isso. Não basta apenas dar uma opinião sobre o tema proposto, mas é preciso fazer uma proposta de intervenção acerca do problema social apontado. É isso que desespera nossos jovens.
Desde que nascemos, não falta quem nos diga o que fazer: a família, a igreja, a escola, a televisão, o governo – enxeridos não faltam. E ninguém nos pergunta nada. Aí, num belo domingo ensolarado, um jovem, a quem jamais ninguém perguntou coisa alguma, se vê diante do inaudito desafio de dizer ao Leviatã – meu tributo a Hobbes, que resgatou lá no Livro de Jó esse monstro fantástico para representar o Estado – o que ele deve fazer para resolver ou, ao menos, minimizar um problema social.
A escola tradicional não prepara os jovens para esse desafio. A escola tradicional apenas desenvolve nos jovens dois vícios nocivos ao pensamento crítico: copiar e decorar – e distribui um ídolo chamado “diploma”: a maioria das pessoas que dele se apossam passam a crer que sabem de tudo e passam o resto da vida sem abrir um livro. E fazem-se esforços para aumentar o número de diplomados, pois diplomas são quantificados pelas estatísticas. E o resultado é uma massa pronta para ser manobrada pelos donos do poder e do capital, que acreditará em qualquer coisa que um engravatado lhe diga.
Vejamos um exemplo: em 2014, o tema foi a Lei Seca. O que fazer para que menos pessoas dirijam alcoolizadas? E, dos textos que serviam de ponto de partida para a discussão na prova, um versava sobre o fato de que a lei que pune as pessoas que dirigem alcoolizadas fez com que se reduzissem as estatísticas de acidentes de trânsito. Outro, extraído de um site do governo estadual do Rio de Janeiro, falava de um bar em Belo Horizonte (!!!!!!!!!!) que colocava diante dos clientes um porta-copos magnético que tinha duas faces: uma que dizia “Pegue um táxi” e outra que dizia “Dirija”. Quando o cliente tentava colocar o fundo do copo, também magnetizado, sobre o porta-copos, a face que dizia “Dirija” repelia o copo e a que sugeria chamar um táxi aderia ao copo. – Isso era mostrado como uma forma educativa de propaganda produzida pela iniciativa privada. E o que eu vi nos textos rascunhados nos cadernos abandonados no chão da escola era que a maioria dos candidatos ficou a repetir o catecismo governamental: se beber não dirija, essa lei é justa e benéfica, blá-blá-blá. Não encontrei nenhuma proposta de intervenção.
Fui para a sala de aula e coloquei a seguinte questão: “Vocês, que moram em Itaboraí, poderiam ir a uma festa em Copacabana e voltar tarde da noite sem dirigir? Partamos do princípio que um adulto tem o direito de consumir bebidas alcoólicas. E não é proibido que ele fique bêbado. Pode até ser pecado, mas a Constituição Federal nos garante que não precisamos viver segundo os preceitos de igreja alguma. Então há dois direitos em jogo: o direito de encher a cara e o direito de ir e vir. Mas o que impede o cidadão de exercer o direito de ir e vir não é o fato de ele desejar beber: é o fato de termos um transporte público ineficiente. No exemplo dado, vocês poderiam chegar a Copacabana de metrô, mas na volta não contariam com ele, pois ele funciona apenas até meia-noite. Se vocês saírem de lá antes da meia-noite, podem pegar o metrô na estação Siqueira Campos e saltar na estação próxima ao Largo da Carioca. De lá, bastava andar um pouco para chegar à Praça XV e pegar a barca para Niterói. Quando chegassem a Niterói, já seria mais de uma da manhã. Haveria como vocês voltarem a Itaboraí?” – A discussão acalorou-se. Uma aluna disse que teria medo de andar por Itaboraí de madrugada alcoolizada, pois poderia ser estuprada. Outra disse que uma mulher que anda sozinha de noite bêbada só pode querer ser estuprada. Tive que responder que isso é errado: que ninguém quer ser estuprada, que o estupro é o sexo forçado e que ninguém tem o direito de forçar uma relação sexual, não importa qual seja o estado da vítima. – Sim, Paulo Freire diz que o opressor é um parasita que se instala na consciência do oprimido e faz com que ele considere justa a opressão. A fala machista de uma jovem que acha natural que uma mulher seja estuprada por andar sozinha à noite e alcoolizada demonstra que o machismo se instalou naquela consciência. – “E táxi? Tem táxi por aqui à noite? Vocês têm dinheiro para pagar um táxi?” E a discussão prosseguiu até chegarmos à conclusão de que, se houvesse transporte público durante toda a noite, e policiamento ostensivo que fizesse com que as pessoas, especialmente as mulheres, se sentissem seguras para esperar pelo transporte, menos pessoas dirigiriam após beber. Mas ninguém ali havia problematizado o transporte público na redação do ENEM, apenas repetiram o catecismo governamental. – Um candidato ou candidata que escrevesse sobre a necessidade de o metrô funcionar 24 horas certamente destacar-se-ia entre os demais concorrentes.
As pessoas mais preparadas para a redação do ENEM são aquelas que discutem política e duvidam de tudo, especialmente de um jornalismo sensacionalista e de ampla audiência que repete diariamente que bandido bom é bandido morto e que a Declaração dos Direitos Humanos existe apenas para defender bandidos. E o povo, acostumado a ouvir sem questionar, acredita. E o povo, que, na escola, copiou e decorou sem pesquisar, acredita.
Ao lermos a Declaração Universal dos Direitos Humanos percebemos que ela é o mais importante documento já escrito até hoje, pois ela prescreve a necessidade de defender princípios básicos sem os quais não se pode ter uma vida digna. E essa Declaração é o limite da intervenção que se pode propor ao Estado na redação do ENEM.
As pessoas mais preparadas para o ENEM serão aquelas que frequentarem bibliotecas, teatros, salas de cinema, museus e, principalmente, sindicatos, associações de moradores, reuniões de ativistas que defendam as minorias (negros, indígenas, mulheres, LGBTs, portadores de necessidades especiais etc).
O Brasil progredirá quando as pessoas entenderem que a sala de aula é o lugar onde menos se aprende, que o conhecimento tem de ser buscado e descoberto, que não se deve esperar que o professor entregue o conhecimento como o garçom entrega o prato feito: o professor deve ser o provocador, o instigador, o mediador e o comentarista das descobertas. – Mas para tanto é preciso mudar o Estado, para que ele mude a escola pública e garanta a todos os cidadãos o direito de fazer descobertas.
E ainda há obscurantistas que não querem que se fale de política em sala de aula. Como então preparar o espírito crítico dos que enfrentarão o desafio do ENEM?


Edson Amaro é professor de Língua Portuguesa da rede pública estadual do RJ, tradutor, poeta e ator. Publicou pela editora Buriti sua tradução de “Valperga”, de Mary Shelley e pela editora Fragmentos seu primeiro livro de poemas: “Ouro Preto e Outras Viagens”.

DOCE ILUSÃO

 Alguém acredita que o Jair Bolsonaro vai ser tornar inelegível pelo TSE para sempre? Por mais que a gente solte fogos se caso o Bolsonaro s...